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Coluna GEMAC - "Amazônia em processo de “Xeque-mate”"


Amazônia em processo de “Xeque-mate”

Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino, Meio Ambiente e Cidade (GEMAC)

Vivemos em um contexto mundial de constantes conflitos, sejam armados ou diplomáticos, entre potências hegemônicas visando aquilo que torna o sistema capitalista uma locomotiva desenfreada cada vez mais freada: a energia. Na atualidade, a região da Síria está em total estado de catástrofe, com graves problemas internos: imigrações, cidades destruídas, desnutrição, segregação; ou, em outras palavras, crise econômica e política sem esperanças de recuo ao abismo, causados por um emaranhado de interesses políticos das grandes potências mundiais. Hoje, a Síria vive, praticamente, o mesmo caos que o Iraque viveu em suas guerras contra os Estados Unidos. Esses conflitos, tanto no passado como no presente, possuem um fator em comum: a geopolítica energética, ou seja, uma corrida imperial em busca do domínio dos recursos energéticos cada vez mais escassos, tendo em vista uma população mundial cada vez maior e mais consumidora. Além, é claro, das empreses nacionais e multinacionais que precisam manter-se ativas.
Ao mesmo tempo em que esses países lutam pela conquista do pouco petróleo que ainda resta – levando em consideração ser um recurso não renovável e que necessitam de energia para dar prosseguimento a seu crescimento econômico – inicia-se uma busca por recursos que substituam essa matriz em um futuro cada vez mais próximo. Recursos que sejam renováveis e ofereçam menos gastos para sua obtenção. “A nova geopolítica da energia nas relações internacionais tem alterado a função dos estados e suas relações mútuas. Um processo de exaustão da matriz energética de combustíveis fósseis, já bem encaminhado, faz com que a era do petróleo fácil (easy oil) seja paulatinamente substituída pela era do petróleo difícil (tough oil), na qual a extração torna-se crescentemente mais difícil e onerosa. Um dos resultados é uma luta feroz entre novos consumidores de energia dependentes de fontes tradicionais. Portanto, a insaciável sede por recursos coloca à prova sua finitude (PORTO e GEHRE).”
“O mundo utiliza majoritariamente no seu suprimento energético, as fontes energéticas primárias não renováveis, em particular, os combustíveis fósseis – petróleo, carvão mineral e gás natural (FILHO, 2009).” Apesar de uma tentativa de diminuição do consumo de combustíveis fósseis no mundo, a utilização dessa matriz cresce cada vez mais e outros meios estão sendo colocados à prova como substituto direto dessa fonte. Esses meios são as energias renováveis, mananciais inacabáveis de energia extraídos da natureza, como os mares, o sol e os ventos.  Essas fontes suprem, apenas, 14% do consumo energético no contexto mundial. Entretanto, com os combustíveis fósseis tornando-se cada vez mais escassos, as fontes de energia renováveis passam a ser alvo direto dos países capitalistas, que realizam atos diversos em busca da “energia do amanhã”.
Dentre essas “energias do futuro”, a mais visada é a biomassa. A Biomassa é qualquer tipo de matéria orgânica utilizada para produção de energia, podendo ser utilizados a lenha, papéis e papelão, até galhos e folhas de árvores. Essa fonte de energia traz enormes vantagens: alta produção energética, facilidade de armazenamento e transporte, além, caso não seja de forma predatória, não traz consequências a composição da atmosfera.  “Quando se analisam as tecnologias de fontes energéticas alternativas renováveis, observa-se que somente a biomassa, utilizada em processos modernos com elevada eficiência tecnológica, possui a flexibilidade de suprir energéticos tanto para a produção de energia elétrica quanto para mover o setor de transportes (CORTEZ; LORA; AYARZA, 2008).” Essa forma de transformar matéria orgânica em energia já é utilizada em diversos países, principalmente nos emergentes (China e Índia).
A América Latina possui as maiores reservas naturais da terra, pois é onde se localiza a maior floresta tropical do mundo: a Amazônia, em que sua maior concentração está no território brasileiro. Segundo o site do Ministério do Meio Ambiente, “a Amazônia é quase mítica: um verde e vasto mundo de águas e florestas, onde as copas de árvores imensas escondem o úmido nascimento, reprodução e morte de mais de um-terço das espécies que vivem sobre a Terra. Os números são igualmente monumentais. A Amazônia é o maior bioma do Brasil: num território de 4,196.943 milhões de km2 (IBGE, 2004), crescem 2.500 espécies de árvores (ou um-terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plantas (das 100 mil da América do Sul). A bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km2 e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio, o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlântico, lançando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo. As estimativas situam a região como a maior reserva de madeira tropical do mundo. Seus recursos naturais – que, além da madeira, incluem enormes estoques de borracha, castanha, peixe e minérios, por exemplo – representam uma abundante fonte de riqueza natural.”
Esses números, atrelados a busca incessante pela futurística fonte de energia (biomassa), além dos seus recursos hídricos; também escassos em um mundo de constates mudanças climática e um povo em incessante crescimento, faz com que os olhos das grandes potências virem-se para o Brasil e uma constante pressão por vias de acesso aos patrimônios naturais nacionais comece a ocorrer em um gigantesco tabuleiro de xadrez político, em que as potências econômicas mundiais mechem suas peças em busca dessas matrizes. Daí inicia-se, como diria Ruy Moreira, “a geopolítica de transição da matriz energética do petróleo para a da biomassa.”
Nessas plataformas, é verificado ataques internacionais em tentativa de entrada na floresta. De início, é averiguado a proposta de criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Tal proposta de bloco, que tornar-se-ia o maior do mundo, visava, pelo governo dos Estados Unidos, uma penetração intrínseca nas áreas naturais américa sulinas, com pesquisas para implementação de indústrias de beneficiamento industrial da biomassa da Amazônia – portadora da biodiversidade e recursos hídricos escassos no mundo desenvolvido (ADAPTADO de MOREIRA, 2016). Também enxergava uma unificação das leis ambientais dos países membros, segundo uma mesma constituição padronizada. Não por acaso, o governo americano de Bill Clinton, “propôs a implementação imediata de acordos parciais, com abertura total do mercado em 2005”. Mas, tal "fast track" (via rápida) teve esbarro dentro do próprio país, além dos movimentos ambientalistas que formaram forte oposição a proposta dentro do Brasil.
 “...Oriente Médio e Amazônia significariam, assim, o ontem e o amanhã dos recursos energéticos, poços de petróleo e exploração de biomassa, respectivamente. Esgotado o Oriente Médio petroleiro como fonte de energia barata, a Amazônia da biomassa virá ocupar seu lugar na arena geopolítica do mundo (MOREIRA, 2016).” Ou seja, temos um presságio do que podemos ver no futuro do sistema capitalista: a Amazônia (Brasil) como direcionador mundial das fontes renováveis de energia e foco intrínseco dos países utilitários sedentos de fontes energéticas para assegurar seu crescimento econômico. Talvez, por isso, verificamos tantos projetos de intercâmbio para o Brasil de cientistas vindos da Europa, Ásia e América do Norte, querendo aprofundar trocas de conhecimentos entre os países em relação a biodiversidade e o ensino da língua portuguesa cada vez mais disseminados em escolas ao redor do mundo. Com isso, podemos ver, em um futuro não tão longínquo, os detentores do poderio econômico mundial adentrando de uma vez por todas em território brasileiro, colocando-o no tabuleiro de xadrez diplomático internacional, e, quem sabe, envolvendo-o em um “xeque-mate” de nossas riquezas naturais. E, talvez, também podemos averiguar o que o Provérbio Chinês traz de mais claro: "Quando o jogo de xadrez termina, o peão e o rei vão para a mesma caixa.”

Referências
MOREIRA, Ruy. A crise atual a nova face do Estado, do território e das políticas de desenvolvimento. In.: A geografia do espaço-mundo: conflitos e superação no espaço do capital. 1 ED. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2016.
MOREIRA, Ruy. A guerra do Iraque e a ALCA. In.: A geografia do espaço-mundo: conflitos e superação no espaço do capital. 1 ED. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2016.
PORTO, G.; GEHRE, T; A Amazônia na Corrida pelos Recursos Energéticos Globais. In.: I Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras. 2012.
FILHO, Altino Ventura. O Brasil no contexto energético mundial. Vol. 6. Editora: NAIPPE/USP.
LEMOS, F. C. S.SANTOS, I. do C. ; SOUSA, L. P. ; ARRUDA, A. ; FERREIRA, E.T.A. . Paradoxos do exercício de práticas de biopoder na Amazônia Paraense. Fractal: Revista de Psicologia, v. 28, p. 316-323, 2016.
OLIVEIRA, W. P.TRINDADE, J. R. B. ; FERNANDES, D. A. . O planejamento do desenvolvimento regional na Amazônia e o ciclo ideológico do desenvolvimentismo no Brasil. Ensaios FEE (Impresso), v. 35, p. 201-230, 2014.
MAGALHÃES, M. P.
. A Geopolítica nas Sociedades Tropicais Amazônicas. Revista História Hoje (São Paulo), ANPUH, v. 4, n.12, p. 3, 2007.
A última fronteira energética da Amazônia. Extra Classe. Disponível em: < https://www.extraclasse.org.br/edicoes/2015/12/a-ultima-fronteira-energetica-da-amazonia/>. Acesso em: 16 de Maio de 2018.
Acesso a: <http://www.iee.usp.br/gbio/>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.
Acesso a: <http://www.xn--energiasrenovveis-jpb.com/>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.
Acesso a: <https://www.biomassabioenergia.com.br/>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.
Acesso a: <http://www.mma.gov.br/>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.
Acesso a: <http://www.camara.leg.br/mercosul/blocos/ALCA.htm>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.
Acesso a: <http://www.ftaa-alca.org/alca_p.asp>. Acesso em: 17 de Maio de 2018.


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